A Poética de Gaston Bachelard- Mergulho na Imaginação: devaneio, dinamismo, instante, metamorfose
Marly Bulcão; Marcelo de Carvalho; Constança Marcondes Cesar; André Campello
2021, Multifoco, 542 p. ISBN 9786599367786
Descrição
O livro tem como objetivo apresentar, de forma bem abrangente, a poética de Gaston Bachelard. Seu mérito maior é ser um painel diversificado, não só de temáticas relevantes do bachelardismo, como também de interpretações plurais, escritas por quatro pesquisadores do pensamento de Gaston Bachelard que são: Marly Bulcão, Constança Marcondes Cesar, Marcelo de Carvalho e André Campello. Através de suas páginas, o leitor será conduzido a reflexões sobre as imagens e a imaginação, assim como seu papel na criação e na arte. Gaston Bachelard é uma referência atual e importante, ao articular razão e imaginação, ciência e arte. O livro, por sua abrangência temática é de interesse a campos diversos do saber, tais como a filosofia, a arte, a pedagogia e a psicologia. É um estudo oportuno que, exaltando o tema da imaginação, mostra em que consiste o processo imagético e a proliferação de imagens e poderá, com certeza, ensinar ao homem o benefício de alcançar o bem estar espiritual e de usufruir o gozo da felicidade, vivenciando o imaginário que existe em cada um de nós. A leitura do livro vai permitir aos leitores trilhar o caminho prazeroso da criação imagética, vivenciando fenomenologicamente, através das reflexões bachelardianas, o sabor do onirismo ativo, dinâmico e criador.
Marly Bulcão
Prefácio
A obra de Gaston Bachelard, este singular filósofo francês do século XX, se afastando das classificações acadêmicas, explora a pluralidade de dimensões humanas: ciência e poesia, consciência e inconsciente, espaço e tempo, vontade ativa e devaneio apaziguante, etc. Ela entrou, recentemente, em um novo período de difusão, de releitura, de interpretação, particularmente ilustrada, nos últimos anos, por universitários brasileiros de todas as gerações.
Em lugar de continuar a qualificar (como ismos) as duas grandes orientações de escritos sobre a razão e a imaginação, para situar a obra no panorama de uma história dos filósofos, os novos bachelardianos são bem mais atentos às análises pontuais e até mesmo microscópicas, às invenções de palavras e de conceitos, às ambiguidades e polaridades reveladas, etc. Deste modo, se pode apreender melhor a força e a novidade do pensamento bachelardiano, que se relacionam à consideração da pluralidade dos estados de representação, à dinâmica contínua e criadora do espírito, à importância das interações (denominadas dialéticas), feitas de relação e oposição, etc.
Bachelard não se enquadra facilmente num sistema, mas incessantemente e com engenho, explora, de um livro a outro, a complexidade da vida psíquica, a partir de experiências subjetivas, com instrumentos liberados de suas austeras metodologias. Ele explora, livremente, as promessas da fenomenologia e da hermenêutica, do simbolismo literário e psicanalítico, ele desdobra diferentes estatutos da materialidade, ele desvela, detrás de continuidades e descontinuidades do tempo, a potência do instante e do ritmo. Tantos domínios dispersos, cuja compreensão e representação ele renova, ao abrir sempre novos caminhos, dos quais ainda não se conhecem o término.
Nos esclarecimentos convergentes e complementares de Marly Bulcão, de Constança Marcondes Cesar, de Marcelo de Carvalho e de André Campello, bachelardianos experientes e apaixonados, há muito tempo, vemos pouco a pouco se confirmar a contribuição sutil e inovadora de Bachelard à experiência da imaginação poética, que cada um pode ser levado a ativar nas imagens mais banais. Concentrando-se na vertente da vida das imagens autônomas, livres da tutela da abstração científica, os estudos aqui reunidos restituem o dinamismo criativo das imagens, sua temporalidade em realce, seu substrato cosmológico, sua virtude de transformação estética e ética do sujeito, jamais postas em evidência com tal finesse, precisão, convicção.
A adesão às concepções de Bachelard põe em jogo, de modo mais profundo do que as concepções de razão e de imaginação, uma psicologia íntima do homem que constitui a verdadeira âncora de suas interpretações epistemológicas ou hermenêuticas da criação de teoremas e de poemas. O bachelardismo estabelece uma nova antropologia que, sem jamais ter sido desenvolvida direta ou sistematicamente em um livro, se encontra disseminada em todas as análises que conduzem às formações e transformações de conceitos e de imagens. Somente esta antropologia, sob muitos aspectos em ruptura com a grande tradição da filosofia européia, pode esclarecer e legitimar as análises parciais e regionais das atividades operantes em nossas teorizações científicas e em nossos devaneios poéticos e esclarecer as mutações em curso em nossa pós modernidade.
Jean-Jacques Wunenburger
Professeur émérite de philosophie
Université Jean Moulin Lyon3
Président de l’Association Internationale Gaston Bachelard
(tradução de Marly Bulcão e Marcelo de Carvalho)
Préface
L’œuvre de Gaston Bachelard, ce philosophe français singulier du XXème siècle, échappant aux classifications académiques, explore la pluralité des dimensions humaines : science et poésie, conscience et inconscient, espace et temps, volonté active et rêverie apaisante, etc. Elle est entrée récemment dans une nouvelle période de diffusion, de relecture, d’interprétation, particulièrement illustrée ces dernières années par les universitaires brésiliens de toutes générations.
Plutôt que de continuer à qualifier les deux grandes orientations (en ismes) des écrits, sur la raison et l’imagination, pour la situer dans un panorama d’une histoire des philosophes, les nouveaux bachelardiens sont bien plus attentifs aux analyses ponctuelles voire microscopiques, aux inventions de mots et de concepts, aux ambiguïtés et polarités mises au jour, etc. On peut ainsi mieux saisir la force et la nouveauté de la pensée bachelardienne, qui tiennent au souci de la pluralité des états de représentation, à la dynamique continue et créatrice de l’esprit, à l’importance des interactions (nommées dialectiques) faites de relation et d’opposition, etc.
Bachelard n’entre pas facilement dans un système, mais explore sans cesse, d’un livre à l’autre, avec ingéniosité, à partir d’expériences subjectives, avec des outils libérés de leur méthodologie austère, la complexité de la vie psychique. Il exploite librement les promesses de la phénoménologie et de l’herméneutique, de la symbolique littéraire et psychanalytique, il déplie les différents statuts de la matérialité, il dévoile derrière les continuités et discontinuités du temps, la puissance de l’instant et du rythme. Autant de domaines épars dont il renouvelle la compréhension et la représentation, en ouvrant toujours de nouveaux chemins dont on ne connaît pas encore le terme.
Dans les éclairages convergents et complémentaires de Marly Bulcao, de Constança Marcondes Cesar, de Marcello de Carvalho, André Campello, bachelardiens chevronnés et passionnés depuis longtemps, on voit peu à peu se confirmer l’apport subtil et novateur de Bachelard à l’expérience de l’imagination poétique, que chacun peut être amené à activer dans les plus banales images. En se concentrant sur le versant de la vie des images autonomes, libérées de la tutelle de l’abstraction scientifique, les études rassemblées ici restituent le dynamisme créatif des images, leur temporalité contrastée, leur substrat cosmologique, leur vertu de transformation esthétique et éthique du sujet qui n’avaient jamais été mise en évidence avec une telle finesses, précision, conviction.
L’adhésion aux conceptions de Bachelard met en jeu, plus profondément que les conceptions de la raison et de l’imagination, une psychologie intime de l’homme, qui constitue le véritable point d’ancrage de ses interprétations épistémologiques ou herméneutiques de la création de théorèmes et de poèmes. Le bachelardisme engage une nouvelle anthropologie qui, sans être jamais déployée frontalement ni systématiquement dans un livre, se trouve disséminée dans toutes les analyses portant sur les formations et les transformations des concepts et des images. Seule cette anthropologie, à bien des égards en rupture avec la grande tradition de la philosophie européenne, peut éclairer et légitimer les analyses parcellaires et régionales des activités mises en œuvre dans nos théorisations scientifiques et dans nos rêveries poétiques et éclairer les mutations en cours dans notre post-modernité.
Jean-Jacques Wunenburger
Professeur émérite de philosophie
Université Jean Moulin Lyon3
Président de l’Association internationale Gaston Bachelard